Sexta Envenenada: Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia


“Amigo Verdadeiro
Hei de estar aqui
Se a saudade lhe doer
Ou a sorte lhe faltar
Eu hei de estar
Hei de estar aqui
Te rever com alegria
E emoção
Eu hei de estar
E sempre haverá
Em minha vida um lugar
Pra você gente de casa
Amigo do coração
Hei de estar aqui
Na alegria e na tristeza
Tanto faz
Eu hei de estar
Hei de estar aqui
Só pra ver a tua estraia
Iluminar o céu
Eu hei de estar
Você vai conseguir
Logo chega lá
E assim amigo velho
A vida continua
Vai dar pé, boa sorte companheiro
É dificil encontrar
Um amigo verdadeiro
Muita luz muita paz no teu caminho
Mesmo longe estou contigo
Não te deixarei sozinho
Olá, Envenenados!

Finalmente, a Sexta. Envenenada ou não a Sexta sempre é um espetáculo.
Depois de uma semana de calorão insuportável, no melhor estilo "Quando o segundo Sol chegar...", de expectativa sobre a escolha do novo pontífice da Igreja Católica e delírio de muitos pela eleição do primeiro Papa latino-americano - boa sorte Francisco, semana em que saiu a sentença de Bruno Fernandes de Souza pelo assassinato de Eliza Samudio e de Mizael Bispo (sem nenhum trocadilho com o papado) pela morte de Mércia Nakashima, entre tantos outros fatos importantes que aconteceram.
Como tem acontecido ultimamente, as sextas têm sido data de situações a serem lembradas.E hoje não será diferente, pois nesta data, 15 de março de 1998, perdíamos um dos maiores ícones da cultura brasileira. Há quem ame, há quem odeie, mas não se pode negar de Sebastião Rodrigues Maia, mas conhecido como Tim Maia, marcou época.
Eu, particularmente, amo sua música, seu jeitão e sua voz - uma de suas marcas.
Esse tijucano da gema, fez parte de um grupo que mudaria de uma vez por todas a cara e a alma da cultura brasileira.
A Sexta Envenenada de hoje está cheia de soul, de ritmo e de poesia, aproveitando que ontem, 14 de março, foi o Dia da Poesia, já que nosso absinto da vez é o "Síndico do Brasil", Tim Maia.
Junto com artistas como Jorge Ben Jor, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, ele começou a desenhar outros horizontes para a música popular brasileira. Suas músicas são referências para muitos dos novos artistas.
Era também conhecido como um artista temperamental, mas brilhante.
Não Esquente A Cabeça
Não se aborreça
Não esquente a cabeça
O relógio vai depressa 
Ou devagar
Não se desanime
Não se renda 
Se aproxime
É vivendo 
Que se aprende a viver
Não está errado
Ser solteiro 
Ou ser casado
O negócio 
É saber viver em paz
Quer ser elegante
Quer ser forte, ser galante
Quer ser tigre
Quer ser cobra, ser leão
Quer ser o primeiro
Quer ser forte, ser ligeiro
Quer ser lindo 
Quer ser belo, bonitão...
Não temos a pretensão de fazer uma biografia de Tim, mas de lembrar com saudade um pouquinho do seu trabalho, seja compondo, cantando ou produzindo, pois seu legado é extenso.
Azul da Cor do Mar, por exemplo, é um dos clássicos que levam a assinatura de seu timbre rouco e gostoso de ouvir.
Com uma personalidade marcante e um estilo único, Tim Maia viveu intensamente todos os momentos de sua vida e carreira, isso pode ser conferido em seu repertório e também no livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, onde Nelson Motta, amigo e fã, faz a biografia do artista – editado pela Objetiva e lançado em 2007.
O livro é uma curtição no melhor estilo TM, que aos 12 anos trabalhava entregando refeições para ajudar no orçamento da família.
“[...]
Tijuca, 1954, 60kg
‘É a puta que te pariu!’
Gritava Tião quando algum moleque na rua o xingava de Tião Marmiteiro. Carregando duas pilhas de marmitas penduradas nas pontas de uma vara, atravessada sobre os ombros, como um pescador chinês de carnaval, Tião percorria as ruas da Tijuca sob o Sol escaldante do meio-dia, quando os outros três moleques que ajudavam a pensão não davam conta das entregas.
Nelson Motta e Tim Maisa
Tião tinha 12 anos, estudava de manhã no Ginásio Vera Cruz e odiava entregar as marmitas com as refeições preparadas por seu Altivo. As irmãs ajudavam na cozinha e na limpeza, e Tião era encarregado das entregas quando os pedidos aumentavam. A vida era dura, mas era doce, salgada e apimentada no casarão dos Maia.”
Tião era o “queridinho” do pai, e assim que conseguiu livrar-se das marmitas e depois de muito implorar, seu Altivo permitiu que trabalhasse como contínuo numa firma da Praça Saens Pena (para quem não conhece, esta é a praça principal da Tijuca, o centro comercial desse bairro – onde vivo também – e onde localizavam-se vários cinemas e outros estabelecimentos com contavam um pouco da história do bairro).
Aos 14, formou sua primeira banda musical e, aos 15 conseguiu o que nem suas irmãs tiveram: uma festa baile, no estilo de uma debutante.
“Para Tim, que se dizia formado em ‘tratamentos capilares, dificuldades em sofrência e cornologia”, a música era a ‘expressão máxima da cornitude’. Começava com um longo recitativo amoroso, numa voz grave e sombria: ‘... até que a mulher que a gente ama vacila e põe tudo a perder’, Tim respirava fundo e soltava o grito lancinante:...
“Me dê motivo, pra ir embora, estou vendo a hora de te perder...’”
O livro é uma graça e conta a trajetória do cantor, assim como o gradativo aumento de peso e de situações não tão bonitas de sua vida. Mas vamos combinar: quem tem a vida ilesa, sem problemas? Mas é uma leitura muito gostosa e traz um pouco desse cara que mais parecia um tornado.
“A Nova República também não merecia a sua confiança: ‘O Sarney nunca tomou trezentos LSDs nem comeu churrasquinho de gato com Ki-Suco como eu; não tem experiência para ser presidente, eu seria melhor do que ele.’
Tim estava popularíssimo, e foi o amor do público que o salvou quando,  mais uma vez, foi detido em seu carro com substâncias tóxicas ilegais. Foi levado para a 13ª DP, no final da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em frente a Galeria Alaska, um tradicional ponto gay carioca, com grande movimento, por volta de uma da madrugada.
Ao subir as escadas da delegacia, empurrado por dois caras, Tim viu que tinha muita gente na calçada em frente e que já o haviam visto. Parou e soltou a voz:
‘Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir
Tenho muito pra contar, dizer que aprendi...
E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri...’
O povo começou a cantar junto, a bater palmas e gritar seu nome. Os tiras tentavam empurrar 128 quilos escada acima, mas ele não se movia nem parava de cantar. Mais gente chegava, as putas e travestis gritavam, todos cantavam, a voz querida e poderosa de Tim Maia enchia a noite de Copacabana.
Diante da avassaladora solidariedade popular, da barulheira infernal e do adiantado da hora, o delegado com bom sendo e bom-humor:
‘Libera o elemento.’”
E assim é livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, com a cara desse cara que incomodava, reclamava, bagunçava, mas que também embalava multidões com suas melodias e vozeirão magníficos.
Tim se foi há quinze anos, mas ainda há muito para ser contado e cantado! Valeu, Síndico!

Azul da Cor do Mar

Ah!
Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi...
E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri...
Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...
Ver na vida algum motivo
Pra sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...
Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...
Ver na vida algum motivo
Pra sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...
E aqui ficou eu, ao som de Todo azul do mar, esperando que o mundo inteiro me possa ler, pois tenho muito pra contar, dizer que aprendi!
Fiquem bem e Carpe Diem!


4 comentários

  1. Eu amo as músicas do Tim Maia!!!

    Elas são perfeitas,e tocam e emocionam até hoje.

    Post lindo Tania!!!

    bjsss

    Bianca

    http://www.apaixonadasporlivros.com.br/

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    1. Você é que é linda, Biazinha!
      Sempre presente, sempre sensível!
      Obrigada, querida, por tudo, Tim é demais mesmo!
      Beijão

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  2. Lindo o seu cantinho e parabéns pelo seu template.
    Bju

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    1. Obrigada, Toninha!
      E seja bem-vinda ao nosso cantinho!
      Beijos

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