Sexta Envenenada: Deslumbrante

Clarear paisagens
Mergulhar, ir bem fundo pra te encontrar
Sem miragens, poder então acreditar
Viajar sem fronteiras
Te mostrar tudo aquilo que eu gostar
Mil maneiras, sentir o mundo respirar
Poder viver com alegria
E sem ter medo de falar
No coração, a poesia
A verdade vai me abraçar
Num lugar bem tranquilo
Nesse mar, verde musgo do teu olhar
Para sempre, eu sei que vou me encontrar
Mil maneiras - Renato Russo


Olá, Envenenados!

Como estão? Apesar desse mês de calor intenso e tempestades assustadoras, “rolezinhos” e a contínua sacanagem política, espero que estejam todos bem.
Hoje gostaria de falar sobre expectativa.

Ex.pec.ta.ti.va s.f. – espera fundada em probabilidade ou promessa. (Houaiss – Dicionário da língua portuguesa...).

Não é isso que todo leitor sente em relação aos livros, sobretudo daqueles autores que tanto admiram?
É exatamente o que sentimos quando acompanhamos uma trilogia, ou uma série com vários livros, ou mesmo quando sabemos que aquele autor que nos conquistou vai lançar outro livro.
Acho que, pelo menos, os apaixonados por leitura concordarão comigo.
Em tempos de redes sociais então, a coisa se agrava!
Os mais informados vão postando as capas, as datas de lançamento e a aflição só vai aumentando.
Isso acontece direto comigo!
Um dos casos de aflição foi o livro Deslumbrante – Uma mulher sem limites, da Madeline Hunter. Este é o primeiro livro da série As Flores mais Raras, editado pela Quinta Essência (Leya).

Pois bem, Deslumbrante, que conta a história de Audrianna Kelmsleigh e Sebastian Summerhays, é um romance de época que mostra a busca pela verdade e confiança.

Sinopse:

“Numa época em que a reputação de uma mulher é o seu bem mais precioso, Audrianna desafia todas as convenções.
Ela é uma jovem determinada, independente... e disposta a tudo para aniquilar seu adversário, o convencido Lord Sebastian Summerhays. Entre os dois está um homem: o pai de Audrianna, que morreu envolto em malhas de uma conspiração.
Para ela essa tragédia significou o fim da sua inocência. Para Sebastian, que liderou a investigação, foi apenas uma morte merecida.
Audrianna jurou limpar o nome do pai, mas nunca esperou sentir um desejo tão avassalador pelo homem que o arrasou. A busca pela verdade vai levá-la longe demais numa sociedade que é implacável perante a ousadia feminina. Ao ver-se mergulhada num escândalo que pode ser fatal, Audrianna tem apenas uma opção inconcebível...”

Virei fã de Madeline Hunter através dos romances de época da Arqueiro e não poderia deixar de conferir essa história.
Depois de ser acusado como responsável pela morte de vários soldados, seu pai, que ocupava um cargo no Gabinete do Material de Guerra, que superintendia a produção de munições durante a guerra, comete suicídio devido ao desprezo que passou a sofrer, deixando a mulher e duas filhas sujeitas à mesma situação. Até mesmo seus familiares e amigos se afastaram das Kelmsleigh.
Mariana Ximenes
Audrianna viu-se obrigada, inclusive a romper o compromisso que tinha com Roger, liberando-o para que não sofresse as consequências da situação que vivia.
Ainda assim, e mesmo com todas as restrições que as mulheres sofriam na sociedade do século XIX, Audrianna decide afastar-se de sua mãe e irmã, vai morar com a prima e começa a buscar meios para provar a inocência do pai.
Em uma dessas tentativas ela dirige-se a uma estalagem para encontrar Dominó, que através de um anúncio de jornal solicita um encontro do Mr. Kelmsleigh, para discutir um assunto de interesse mútuo. Ela está certa de que Dominó tem respostas que podem salvar a reputação de seu pai.
Acontece que Sebastian, absinto do dia e encarregado de investigar o caso da pólvora adulterada e que fora aprovada pelo pai de Audrianna, também lê o anúncio e vai encontrar-se com Dominó, só que ele está buscando a confirmação da culpa de Kelmsleigh e possíveis cúmplices.
E aí começam seus problemas. Ambos se encontram antes da chegada de Dominó e o que poderia passar despercebido de todos, acaba tornando-se um prato cheio para especulações em torno das virtudes e honra de Audrianna.
Para Sebastian, claro, não seria nada absurdo estar em um quarto com uma mulher, pois, além de ser homem, sua reputação de libertino ainda pairava sobre sua cabeça, mesmo tendo assumido o posto de seu irmão no parlamento inglês.
A confusão começa quando Dominó entra e os encontra, neste momento Sebastian, que está com a arma que tirou de Audrianna, luta com o ele e a arma dispara acertando seu braço, o que facilita a fuga de seu oponente.
Obviamente uma multidão corre para o quarto e entendem o que querem da situação: "Dois amantes, o homem ferido com a mulher que obviamente o atingira".
Daí para frente os boatos a respeito de ambos se espalham como rastilho de pólvora, vão parar nos pasquins, nas festas e encontros da alta sociedade inglesa... até chegar ao conhecimento de sua mãe e irmã, que exigem uma explicação e reparação.
Ah! Não mencionei que, assim que se encontram na estalagem, há um clima de mistério e excitação de ambas as partes (claro).
Se gostei da história? É óbvio. Há uma trama muito bem elaborada que faz com que o leitor também tente solucionar o mistério. Há momentos em que duvidamos da integridade do pai de Audrianna, assim como há outros em que temos certeza de sua inocência.
O romance é fascinante, porque a solução para salvar a reputação de Audrianna vem de onde ela menos espera. Sua mãe deseja que ele repare financeiramente, mas a proposta que Sebastian faz é de casamento.

“− Estamos ambos comprometidos, Miss Kelmsleigh. Pagaremos ambos. A prestação de contas será muito menor, porém, se casarmos.
...
− Está me gozando, como é evidente.
− De jeito nenhum. É a única solução que vejo. É muito melhor do que pagar-lhe como a uma criada que eu engravidei. Sendo você filha de um cavalheiro, é o que lhe é devido. Não fosse a nossa desafortunada história, seria o que esperaria, assim como sua mãe e sua prima.
− A nossa desafortunada história... Tem o jeito de um político para as palavras, caro senhor. Essa história faria dessa união um caso de comédia. As tipografias passarão anos ocupadíssimas.
− O casamento tornará a nossa associação tão banal que o escândalo se acalmará antes do início da temporada. Dará continuidade à ficção iniciada com Sir Edwin no Duas Espadas. A nossa indiscrição será considerada amorosa, e não cínica e sórdida.
− Tudo muito bonito para você. Será absolvido por ter me seduzido, mas eu continuarei a ser uma mulher que concedeu seus favores a um homem antes do casamento. Pior, a um homem que perseguiu o pai dela até a sepultura. Não obrigada, prefiro ir para o Brasil. (eu ri muito)
A mão dele cortou o ar com impaciência.
− Por favor, seja razoável. Não vai nada para o Brasil. Acabará por ficar aqui vivendo o resto da sua vida, com medo de mostrar a cara na cidade, mal suportando o desdém da gente daqui. Não conseguirá dar aulas de música por causa da sua fama e ficará completamente dependente da sua prima. Esta propriedade se converterá numa prisão na qual envelhecerá e morrerá.
...
− Provavelmente está certo, Lord Sebastian, e eu não tenho coragem de deixar para trás tudo o que conheço para buscar uma vida nova numa terra distante. Tenho ainda outra escolha, porém.
− Claro que tem. – Ele não acreditava nisso. Ela conseguia ver que ele se convencera de que a história só poderia ter um desfecho.
− Por favor, não me trate como uma menina, senhor. Eu tenho escolha. Uma escolha mais importante do que aquelas que me apresenta. Posso viver a existência triste que descreve, mas assim consigo me assegurar de que você perca sua influência no governo e na sociedade. Ou posso viver luxuosamente com um homem que usou a posição dele para prejudicar enormemente o meu pai e a minha família. Eu diria que a decisão honrada é clara, não acha?”

         Esse é apenas um trecho dos vários em que eles se confrontam. Mas também há muitos momentos de sedução, beijos inesperados e mãos ousadas. Afinal, Sebastian sabe bem como agradar uma mulher.
Muitas coisas ainda estão para acontecer e entre eles, pois, tanto Audrianna quando Sebastian, continuam incansavelmente buscando pistas para o enigma que envolve o pai dela, a pólvora ruim e muitos soldados ingleses mortos por causa dela.
Há também diálogos divertidos que amenizam um pouco o drama que vivem. Outro fato gostoso na história é como Sebastian vai apresentando sutis mudanças em relação ao acordo que fizeram antes do casamento, quando prometera que não tomaria muito do tempo da esposa. Vamos observando seu desejo, a descoberta do ciúme e a necessidade que ela retribua o que sente.

“− Não tenho nenhuma carta dirigida a você. Não roubo as suas cartas dos criados. Que sugestão tão imprópria.
...
− Não estava dirigida exatamente a mim. Não como seria esperado. Só figuravam as minhas iniciais.
− Ah! – acenou a um amigo que o cumprimentou – Essa carta.
− Sabia a que carta me referia, acredito.
− Sabia. Tem certeza de que quer falar sobre isso aqui e agora?
...
− Está muito ruim? Muito indiscreta?
− Ruim o bastante para desafiá-lo e acertar contas, se...
− Um duelo! Não pense nisso!
− Ia terminar dizendo se pensasse que ele era um cavalheiro rival. Havia dito que não é. Escolhi acreditar em você.
− Obrigada. Estou grata pela sua confiança. Receei perguntar, mas é evidente que é um homem razoável que não se dá a reações precipitadas.
Ele recebeu o elogio dela com um sorriso pouco pronunciado.
− Audrianna, se tivesse concluído que era um rival, não teria sido tão razoável. Só para que saiba.
− Não é minha intenção nos desviar do assunto, mas lembro que você havia concordado que aceitaria rivais e seria razoável. Muito especificamente, quando nascesse uma criança. Foi parte do acordo, se assim pode-se dizer.
Ele parou de caminhar e virou-se para ela. Fez aquele sorriso deslumbrante.
− Disse realmente que podia ter amantes. Mas nunca prometi que não os mataria.”

Eu achei essa colocação dele muito divertida, apesar de ameaçadora.
Mas Sebastian também nos proporciona momentos muito quentes.
Aitor Ocio
“Fosse qual fosse o debate dele, terminou ali. Fitou-a por mais algum tempo, o bastante para deixá-la corada e palpitante. A seguir, foi até a cama. Não se deitou. Ficou de pé ao lado dela, a seda negra do robe em frente ao seu rosto. A mão dele esticou-se e afagou levemente o mamilo.
Foi o suficiente para reunir todas as sensações torturantes numa fome concentrada. Era impudica, realmente, a facilidade com que ela sucumbia agora.
− Olhe para mim.
Ela ergueu os olhos enquanto aquela leve carícia a provocava sem misericórdia. O seu corpo saboreava o prazer que alastrava.
− Me toque. (hummmmmmmmm)
Ela esticou as mãos para a seda negra. Deslizou nela as palmas, delineando o peito, dos ombros à cintura, sentindo os ângulos e as elevações do seu tronco. Ele continuava a enlouquecê-la. Tocava-a com ambas as mãos agora. Dedos maliciosos fizeram o seu pior até o próprio toque dela precisar de mais. Transferiu aos mãos para debaixo da seda e acariciou-o com mais firmeza, comprazendo-se com a sensação da pele nos seus dedos.
− Me beije.
Não eram pedidos nem instruções. Proferia ordens, que esperava serem obedecidas.
O rosto e a boca dele estavam altos demais. Ele não se inclinou. Ela compreendeu que não se referia à boca. [...]" – Ooii!

         Li e reli esse trecho e o que vem a seguir re-pe-ti-das vezes. Gente... muito ex-ci-tan-te.
Vamos lá, tenho que admitir, sou volúvel mesmo, me apaixono por esses mocinhos, e não só porque são bons de cama, quem dera eu pudesse comprovar, mas também por seu caráter, por seus gestos e inclinações, sempre querendo fazer o melhor por suas amadas e família. Isso é muito legal. E peço desculpas à companheira (se houver) de Aitor Ocio, jogador de futebol espanhol, mas foi ele quem habitou minha mente "perva" enquanto lia Deslumbrante.
Madeline Hunter, Sebastian e Audrianna, entram no rol dos meus queridinhos.

      Mas, infelizmente nem tudo são flores. E não estou me referindo à história.
Há uma grande quantidade de equívocos na edição do livro. Coisas do tipo trocar nomes de personagens ou escrevê-los de maneiras diferentes (uma hora é Mrs. Jones outra Mrs. Joyes), parágrafos repetidos, falta de concordância em alguns trechos e a sensação de que não está escrito no nosso português. Há muitas expressões que não usamos no Brasil, às vezes, frases inteiras, pelo menos para mim, deixaram de fazer sentido, ainda que as lesse várias vezes.
Enfim, fiquei frustrada quanto à edição de Deslumbrante, pois minha expectativa (como disse no início) era grande.
Obviamente não deixarei de ler os próximos livros, que desejo ardentemente, mas espero que atentem para uma edição mais cuidadosa, ainda que a publicação demore mais um pouco.
Fico por aqui, desejando a todos uma sexta maravilhosa.
Fiquem bem e Carpe Diem!



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